43 .O VALOR DE UM ABRAÇO
É uma avó que conta que, certo dia, sua filha lhe telefonou do Pronto-socorro.
Sua neta, Robin, de apenas seis anos, tinha caído de um brinquedo, no pátio da
escola, e havia ferido gravemente a boca.
A avó foi buscar as irmãs de Robin na escola e passou uma tarde agitada e muito
tensa, cuidando das crianças, enquanto aguardava que a filha retornasse com a
menina machucada.
Quando finalmente chegaram, as irmãs menores de Robin correram para os braços
da mãe. Robin entrou silenciosa na casa e foi se sentar na grande poltrona da
sala de estar.
O médico havia suturado a boca da menina com oito pontos internos e seis
externos. O rosto estava inchado, a fisionomia estava modificada e os fios dos
cabelos compridos estavam grudados com sangue seco.
A garotinha parecia frágil e desamparada. A avó se aproximou dela com o máximo
cuidado. Conhecia a neta, sempre tímida e reservada."Você deseja alguma coisa, querida?", perguntou.
Os olhos da menina fitaram a avó firmemente e ela respondeu:
"Quero um abraço."
À semelhança da garotinha machucada, muitas vezes desejamos que alguém nos tome
nos braços e nos aninhe, de forma protetora.
Quando o coração está dilacerado pela injustiça, quando a alma está cheia de
curativos para disfarçar as lesões afetivas, gostaríamos que alguém nos
confortasse.
Quando dispomos de amores por perto, é natural que os busquemos e peçamos:
"Abrace-me. Escute-me. Dê-me um pouco de carinho. Um chá de
ternura."
Contudo, quando somos nós que sempre devemos confortar os outros, mais frágeis
que nós mesmos, ou quando vivemos sós, não temos a quem pedir tal recurso
salutar.
Então, quando estivermos ansiosos por um abraço consolador nos nossos momentos
de cansaço, de angústia e de confusão, pensemos em quem é o responsável maior
por nós.
Quando não tivermos um amigo a quem telefonar para conversar, conversemos com
Nosso Pai. Sirvamo-nos dos recursos extraordinários da oração e digamos tudo o
que Ele, como Onisciente, já sabe, mas que nós desejamos contar para desabafar,
aliviar a tensão interna.
Falemos das nossas incertezas e dos nossos dissabores, sobre as nossas
decepções e nossos desacertos e nos permitamos sentir o envolvimento do Seu
abraço de Pai amoroso e bom.
Não importa como o chamemos: Pai, Deus, Criador, Divindade. O importante é que
abramos a nossa intimidade e nos permitamos ser acarinhados por Ele.
Ele sempre está pronto para abraçar Seus filhos, sem impor condições.
E se descobrirmos que faz muito tempo que não sentimos esse abraço Divino,
tenhamos a certeza de que faz muito tempo que não o pedimos.
Já abraçou alguém hoje?
Lee Shapiro é um juiz aposentado.
É também uma das pessoas mais genuinamente amorosas que conhecemos. A certa
altura de sua carreira, Lee percebeu que o amor é o maior poder que existe.
Consequentemente, Lee se transformou no homem dos "abraços". Começou
a oferecer a todo mundo um abraço. Seus colegas o apelidaram de "o juiz
dos abraços" (em oposição a "juiz dos enforcamentos", supomos).
O adesivo do seu carro diz: "Não me bata! Abrace-me!"
Há cerce de seis anos, Lee criou
o que ele chama de "kit-abraço". Do lado de fora lê-se: "Um
coração por um abraço". Dentro, há trinta coraçõezinhos vermelhos bordados
com alfinetes atrás. Lee sai com seu kit-abraço, encontra as pessoas e
oferece-lhes um coraçãozinho em troca de um abraço.
Lee tornou-se tão conhecido por isso
que frequentemente é convidado para apresentar conferências e convenções, onde
compartilha sua mensagem de amor incondicional. Numa conferência em São
Francisco, a imprensa local o desafiou dizendo: "É fácil sair distribuindo
abraços, aqui na conferência, a pessoas que resolveram vir por vontade própria.
Isso nunca funcionaria no mundo real".
Eles desafiaram Lee a distribuir
alguns abraços pelas ruas de São Francisco. Seguido por uma equipe de televisão
do noticiário local, Lee saiu às ruas. Primeiro, se aproximou de uma mulher que
passava.
- Oi, sou Lee Shapiro, o juiz dos abraços. Estou doando
estes corações em troca de um abraço.
- Claro – respondeu ela.
- Fácil demais – provocou o comentarista local.
Lee olhou à sua volta. Viu uma guarda de trânsito que estava
enfrentando problemas com o dono de uma BMW a quem estava entregando uma multa.
Aproximou-se dela, a equipe de televisão junto com ele, e disse:
- Parece-me que um abraço poderia lhe ser útil. Sou o juiz
dos abraços e estou lhe oferecendo um.
Ela aceitou.
O comentarista de televisão lançou um último desafio.
- Veja, aí vem um ônibus. Os motoristas de ônibus de São
Francisco são as pessoas mais rudes, rabugentas e intratáveis de toda a cidade.
Vamos ver se você consegue um abraço dele.
Lee aceitou o desafio.
Quando o ônibus parou, Lee disse:
- Oi, sou Lee Shapiro, o juiz dos abraços. Seu trabalho deve
ser um dos mais estressantes do mundo. Hoje, estou oferecendo abraços às
pessoas para aliviar um pouco sua carga. Gostaria de um?
O homenzarrão de dois metros e mais de cem quilos levantou
do banco, desceu do ônibus e disse:
- Por que não?
Lee o abraçou, deu-lhe um coração e acenou quando o ônibus
partiu. A equipe de TV estava sem fala. Finalmente, o comentarista disse:
Um dia, Nancy Johnston, amiga de
Lee, bateu em sua porta. Nancy é palhaço profissional e estava usando sua
fantasia, maquiagem e tudo o mais.
- Lee, pegue um punhado de seus
kit-abraço e vamos a um lar de deficientes.
Quando chegaram ao lar, começaram
a distribuir chapéus com balões, corações e abraços aos pacientes. Lee
sentia-se desconfortável. Nunca havia abraçado pacientes terminais, pessoas
gravemente retardadas ou quadriplégicas. Foi definitivamente um esforço. Mas,
depois de um certo tempo, ficou mais fácil, e Nancy e Lee conquistaram uma
comitiva de médicos, enfermeiros e serventes que os seguiram de ala em ala.
Depois de algumas horas, eles
entraram na última ala. Eram os 34 piores casos que Lee jamais vira em sua
vida. O sentimento era tão cruel que partiu seu coração. Mas, cumprindo seu
compromisso de compartilhar seu amor com os outros, Nancy e Lee começaram a
passear pela sala, seguidos pela comitiva de médicos que, a essa altura, já
traziam corações nos colarinhos e chapéus feitos de balões na cabeça.
Finalmente, Lee chegou à ultima
pessoa, Leonard. Leonard usava um enorme babador branco sobre o qual babava. Lee
olhou para Leonard, que babava, e disse:
- Vamos embora, Nancy, não há como encarar esse aqui.
Nancy replicou:
- Vamos lá, Lee. Ele também é um ser humano, não é?
Então, ela colocou-lhe um engraçado chapéu de balões na
cabeça. Lee pegou um de seus coraçõezinhos vermelhos e prendeu-o no babador de
Leonard. Respirou fundo, inclinou-se e o abraçou.
De repente, Leonard começou a gritar:
- Eeeeeh! Eeeeeh!
Alguns dos outros pacientes na sala começaram a bater
coisas. Lee voltou-se para a equipe esperando alguma explicação e apenas viu
que todos os médicos, enfermeiros e serventes estavam chorando. Lee perguntou à
enfermeira chefe:
- O que é que há?
Ele nunca poderá esquecer o que ela disse:
- Esta é a primeira vez em 23 anos que vemos Leonard sorrir.
Como é simples ser importante na vida dos outros.
Autor: Jack Canfield e Mark V. Hansen
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