Histórias pra compartilhar: O poder da palavra




  O PODER DA PALAVRA
Amélia Albuquerque

Essa história eu escutei
De uma grande amiga minha,
Que me contou com detalhes
Que você nem adivinha.

Falou que no céu existe
Uma escola especial,
Onde todo anjo aprende
O seu dom angelical.

Mas pra ganhar o diploma,
Ser um anjo de verdade,
Um estágio aqui na Terra
É uma necessidade.

Foi assim que dois anjinhos
Receberam a missão
De vir visitar o mundo,
Praticar uma boa ação.

No calendário da Terra
Era tempo de natal.
A humanidade toda
Queria paz, afinal!

Os anjos chegaram cedo
 E viram tudo tão calmo
Que deram graças cantando
Em coro um bonito salmo.

_ Que bem podemos fazer?
Em conjunto indagaram.
Foi quando em um belo campo
Dois homens eles avistaram.

Eram dois agricultores,
Seguindo para os roçados,
Sem dar conta que de perto
Eram agora observados.

De repente a um dos anjos,
uma idéia ocorreu,
E ele, muito contente,
Logo exclamou: _Valeu!

Vamos a esses dois homens
Nesse instante abençoar,
E por esse longo dia
Um poder lhes outorgar.

Toda palavra que hoje
Puderam pronunciar
É palavra de poder,
E vai se realizar.

O outro anjo escutou
E ficou meio agitado.
_ Será que isso dá certo?
Perguntou desconfiado!

_ Você tem outra idéia?
Disse o anjo decidido,
Se não tem, tentemos essa,
Isso fica resolvido!

Os homens não perceberam,
Mas foram abençoados,
E tendo se despedido,
Seguiram bem apressados.

Ao chegar ao seu roçado,
José ficou irritado
Ao ver um bando de pássaros,
No milharal instalado!

Malditos sejam vocês,
O meu milho a bicar,
Comprometendo a safra,
Ferindo meu paladar.

Desejo que vocês morram
Queimados, esturricados!
Mal acabou de falar,
Caíram ali fulminados.

Mesmo tendo dito isso,
José ficou assustado
Ao ver que o que dissera
Tinha se concretizado.

Com o coração disparado,
Tratou de ir embora,
E, se sentindo culpado,
Seguiu pela estrada afora.

Mas eis que surge na trilha,
Balançando o seu rabinho,
Um porquinho displicente,
Gorducho e engraçadinho.

Entre as pernas de José,
Ele passou como um raio,
E numa poça de lama
O lançou quase em desmaio.

Quando se recuperou,
Ainda sujo e desfeito,
José sentiu que a raiva
Queimava dentro do peito.

Lançou-se contra o porquinho,
Que ali perto brincava,
Praguejando e afirmando
Que a morte lhe desejava.

E eis que morre o porquinho,
Assim, no mesmo instante,
Em que a fria palavra
Decreta o mal fulminante.

_Meu Deus, o que me acontece?
Diz o homem deprimido.
Que dia estou vivendo,
O quanto tenho sofrido!

Vou voltar pra minha casa,
 Lá eu não corro perigo.
Fico quieto e distante
De tudo que for castigo.

Mas eis que ao abrir a porta,
As dobradiças se soltam,
E é enorme o peso
Que os seus braços suportam.

_ O que falta acontecer,
O que me ameaça agora?
Essa casa pegar fogo
É o pior nessa hora! 

No céu de longe a fumaça
Antonio enxerga e constata:
_É a casa de José
Pegando fogo na mata!

Acode logo o amigo
Para o fogo  combater
E a família de José
Abrigar e defender!

_ Nem sei como agradecer.
Diz José a seu compadre,
Esse dia terrível,
Eu confesso até ao padre.

_ Pois para mim foi perfeito,
Um dia surpreendente.
Cheio de bênçãos e graças,
Único na vida da gente!

Era Antonio quem falava
Com o olhar iluminado.
E o que lhe acontecera
Narrou entusiasmado.

Ao chegar lá na mandala,
Onde fica a plantação,
Vi todo o campo irrigado,
Tomates em profusão.

Os patos n’água do poço,
Nadando com maestria,
E pimentões amarelos,
Gosto puro de alegria.

Mas eis que levei um susto
Quando meu olhar pousou
Nas folhas da couve-flor,
E lagartas enxergou.

Fiquei olhando e pensando:
Criaturas do senhor,
Se virarem borboletas
Não me causam qualquer dor.

E então, igual milagre,
Houve a transformação
De lagarta a borboleta,
Asas, cores e emoção.

Eu fiquei surpreendido
Com o que estava a acontecer.
Como o que eu desejara
Acabara de ocorrer.

Vim voltando para casa
Pelo caminho do rio,
Quando um choque violento
Pôs meu corpo em arrepio.

Um lindo pássaro azul,
Voando em vôo rasante,
Veio de encontro a meu rosto,
Ferindo-me nesse instante.

Senti pena do bichinho,
Fraco, tonto e tão sofrido.
Segurei-o com cuidado,
Cuidei dele comovido.

Desejei que alguém surgisse
Para vir me ajudar,
Permitindo que o pássaro
Pudesse logo voar.

Pois eis que surge um grupo
De amantes da natureza,
E me dizem que o pássaro
É bem raro com certeza.

Senti-me bastante grato
Ao vê-lo recuperado,
E vi que o meu ferimento
Também havia sarado.

De volta a minha casa,
Tratei de abrir o portão,
Mas eis que ele desaba,
Quase ferindo minha mão.

Falei com fé e coragem:
Coisas boas vão surgir.
E do chão de pedra e cal
A riqueza vai fluir.

Pois acredite, compadre,
Que recebi a noticia:
Tem petróleo em meu terreno,
Não é historia fictícia.

Já voando para o céu
Iam os anjos a indagar:
_Fizemos o bem ou o mal,
Quem nos pode informar?

Se para um deu tão certo,
E para o outro não deu,
A ação que praticamos
Foi boa, ou se perdeu?

E lá na corte celeste
Essa história eles contaram,
E a palavra do mestre,
Em seguida, invocaram!

_ Ganhamos nosso diploma?
Somos anjos de verdade?
Podemos comemorar
E rir de felicidade?

O senhor mestre dos anjos
Disse com voz de trovão:
_ vocês estão diplomados,
Com mérito e expressão.

E desse dia em diante,
Assim fica decretado
Que toda palavra humana
Tem seu poder confirmado.

Por isso tenha cuidado
Com aquilo que falar.
As palavras têm força,
Podem o mundo mudar.

Cultive bons pensamentos,
Seja sempre otimista,
Use o poder da palavra
Como dom que se conquista.

No céu, os anjos em coro,
Ao ouvir a afirmação,
Disseram todos amém,
Aprovando essa moção.



O Poder da Palavra de Amélia Albuquerque é o reconto em quadras de uma história de domínio público, que mostra como a palavra expressa a nossa forma de ver a vida e como ela pode contribuir com os sucessos e insucessos que nos acontecem. 

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