Dramatização da história: Uma festança na floresta de Clarice Lispector, realizado pelo Projeto Guisado da Leitura
O conto: Uma festança na floresta está no livro “Como nasceram as estrelas”, que trás para cada mês
do ano uma lenda ou um conto que retrata cenário e tradições característicos da
cultura brasileira.
Neste livro Clarisse Lispector busca dialogar com seu pequeno leitor de
igual para igual, só que, nesse caso, é a autora que diminui sua idade e volta
a ser criança. Por sorte, uma criança cheia de sonhos, que dá valor ao maravilhoso
espetáculo de vaga-lumes em céu escuro, que sugere não haver coisa melhor nesse
mundo do que "comer batata-doce com café tinindo de quente" em festa
de São João, mas que também assume seu lado Saci Pererê, de molecagens e
manhas.
(entra Clarice e Antonino com fundo musical de festa junina)
Clarisse:
_Estamos no mês de junho, as fogueiras de São João se acendem, balões sobem, já
há friozinho e aconchego. Dá para comer batata-doce à meia-noite com café
tinindo de quente.
Antonio:_ Mas
sabe que me disseram Clarisse que a festa não é só nossa. Pois não é que ia
haver uma festa da bicharada na selva?
Clarisse:_
Sei, Antonio. E calculo que isso acontecesse no mês de nossos próprios
folguedos. Pelo menos é o que garantem os índios da tribo Tembé.
Antonio:_ Foi assim: os animais das matas até que estavam ocupados e
calmos em relação a seus deveres, pois o dever do animal é existir. Mas eis
senão quando surgiu no ar um boato que logo se espalhou alvissareiro num
diz que diz assanhado. Vinha esse boato trazido pelo canto do sabiá.
(música para o sabiá entrar)
Sabiá:_Sabia que a dona Onça, Rainha da selva
brasileira, irá fazer uma festança na floresta, ela manda dizer a todos que não
faltem e não tenham medo, pois garante que na ocasião será abolida a
ferocidade, sabia?
(música para coruja entrar)
Coruja:_ Já que é assim marcarei presença
nesta festança.
(música para a macaca entrar)
Macaca:_ Que bom, uma festança na floresta,
quem sabe é dessa vez que arranjarei um namorado para casar.
(música para a anta entrar)
Anta:_ Com certeza vai ter muita comida, não
poderei faltar.
(música para o jabuti entrar)
Jabuti:_ Devagar se vai longe.
(música para tucano entrar)
Tucano:
irei tocar os
mais belos grunhidos da mata.
(música para o papagaio entrar)
Papagaio:
cantarei uma canção alegre para todos os animais da floresta.
(música para a onça entrar)
Onça:_N a minha festa será abolida a
carnificina
(ENTRA A COBRA COM UM AR SUPERIOR PASSANDO COMO SE ESTIVESSE
DESFILANDO)
(música para a cobra entrar)
Cobra: _Pronto já cheguei pode começar essa
festa, acredito que estavam esperando só por mim.
(ENTRA O TUCANO E O PAPAGAIO COM INSTRUMENTOS MUSICAIS COMEÇANDO A
TOCAR E TODOS OS ANIMAIS A DANÇAR).
Onça:_Parem a festa.
Todos:_ Vossa majestade, rainha das selvas
brasileiras.
Onça:_ Estou morta de fome, quanto aperitivo gostoso, mas que
pena que quando convidei a todos disse que não haveria carnificina aqui, mas
não estou aguentando vê estes animais aqui. Vou acabar esta festa rapidinho.
Anta:_ Mas por quê? A festa está tão boa.
Onça:_ Fique quieta Dona Anita gorda e roliça que nem uma porca e ainda tem
cor de rato.
Anta:_ Tanto preconceito com meu corpo e minha
cor. Vou embora desta festa.
Jabuti:_ Devemos respeitar a todos.
Onça:_ E você senhor jabuti,não estou aguentando o cheiro e ainda
mais está coberto de varejeira.
Jabuti:_ Espere por mim dona Anita, vou embora
com você, quanta ofensa conosco.
Macaca:_ Que horror!
Onça:_ Cale a boca, deveriam pelo menos ter
vindo bem vestida a minha festa, não com esse decote indecente.
Macaca:_ Mas o decote me deixou tão bonita pra
arranjar um namorado.
(ESCUTA-SE UM SOM MUITO ALTO DE UM RAIO E APARECE O DEUS ARAPUÁ-TUPANA)
Todos:_ Não podemos ouvir a voz de Arapuã-
tucana, pois ao ouvi-lo morreremos.
(TODOS COLOCAM AS MÃOS NO
OUVIDO)
Arapuã-tupana:
PRA VOCÊ QUE ESQUECEU
QUERO AGORA TE LEMBRAR
SE AINDA NÃO ENTENDEU
É IMPORTANTE RESPEITAR.
SEJA MAGRO, GORDO OU FEIO
NEGRO, BRANCO OU AMARELO
RUIVO, PARDO OU ATÉ VERMELHO
OU DA COR DE CARAMELO.
VAMOS TODOS RESPEITAR
NOSSO IRMÃO NOSSO PARCEIRO
QUEM RESPEITA É RESPEITADO
ENTREM NESSA COMPANHEIROS!
(Poesia de Maria Fabiana Sousa)
(CADA ANIMAL COMEÇAM A EMITIR O
SEU SOM PRÓPRIO E COMEÇAM A SAIR)
Clarisse:_ Os bichos, sabendo que quando o ouvissem morreriam,
taparam os ouvidos. Arapuá-Tupana afinal foi embora e a bicharada não morreu.
Antonio:_ É. Mas os animais
haviam perdido o dom da fala, ninguém se compreendia mais.
Clarisse:_ E isso até o dia de hoje. Porque grunhir ou cantar não diz
nada. Tudo por causa da onça linguaruda.
Texto: Uma festança na floresta- Clarice Lispector
Comentários
Postar um comentário